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segunda-feira, 31 de maio de 2010

As novas dimensões da educação

Por Ricardo Young *

Após ler o interessante artigo escrito por Milú Villela e Mozart Neves Ramos, publicado pela Folha de São Paulo na segunda, 24/05, “A Educação Mobilizando o Brasil” sobre a necessidade de se valorizar, capacitar e criar uma carreira diferenciada para os professores, achei por bem também entrar nessa discussão.


Milú e Mozart citaram a experiência de Nova York onde a meritocracia é apresentada como uma das dinamizadoras da qualidade educacional. Outro ponto destacado no artigo, foi a desvinculação e descentralização do orçamento das escolas em relação ao orçamento público. Todos esses pontos são realmente importantes, mas ainda precisamos avançar mais se quisermos colocar o Brasil num patamar de real protagonismo no século XXI.

Nós já estamos vivendo um período de enormes desafios muitos deles longe de serem superados. O Brasil vai bem em muitos setores macroeconômicos, mas o nosso tecido social apresenta uma fragilidade ímpar. A capacidade nacional para a formação de cérebros, a competência científica, de pesquisa, de inovação tecnológica em grande escala é ainda muito pequena. Até mesmo o estado de São Paulo, entre os mais avançados do país, não consegue formar um conjunto razoável de cientistas que possa fazer frente a velocidade das inovações tecnológicas, como por exemplo, no campo das mudanças climáticas.
É preciso criar as condições para uma ruptura virtuosa. Não é possível se esperar duas ou três gerações para que nós possamos gerar competência e formar cérebros na altura da demanda que o Brasil terá e já está tendo em relação ao seu posicionamento no mundo.

Precisamos de uma revolução curricular que contemple, pelo menos, três dimensões da educação. A primeira delas é a da sociedade em rede. Já vivemos essa realidade e, portanto todo o processo de aprendizado não se dá mais só na sala de aula e o professor não é a única fonte de conhecimento. O mundo, com seus milhares de acessos, é a fonte de conhecimento e a sala de aula deveria servir para reorganizar de forma cognitiva esse mesmo conhecimento.

A segunda dimensão é a ecológica. A sociedade moderna criou um divórcio entre o aluno e a natureza. Será necessária, uma reconciliação profunda com o meio ambiente. Não é possível educar nossas crianças sem que elas conheçam profundamente as leis que orientam a natureza, não de maneira fragmentada como se dá hoje, mas por meio de um modo sistêmico da ecologia profunda proposta na Carta da Terra. O que podemos chamar de uma verdadeira realfabetização ambiental. Nós, seres urbanos, perdemos a conexão com o meio ambiente, com a comunidade da vida e as leis mais elementares que regem os recursos do planeta. Isso faz com que ignoremos as leis naturais mais elementares. Um bom exemplo é que enxergamos a presença dos insetos como simplesmente falta de limpeza, nós perdemos a noção do que significa esse rico, complexo e indispensável universo de microorganismos.

E a última e terceira é a dimensão de cidadania global, nas quais as questões nacionais são relativizadas por uma dimensão planetária horizontalizada. As nossas crianças não têm ideia do que significa o planeta, a diversidade, a interdependência, os valores universais, a cidadania global. Na escola nós aprendemos muito sobre nosso o país e nosso povo, mas totalmente desconectado do geral, da aldeia global em que estamos presentes. Essa dimensão de cidadão do mundo é fundamental na educação.

Nós não podemos cair na armadilha e reduzir a questão da educação apenas com a universalização do ensino fundamental e médio e da qualificação do professor e do ensino apenas. Nós precisamos ser mais ousados. Temos que buscar por esse caminho, a formação radical de competências científicas, tecnológicas e uma outra visão mais voltada para o mundo como realmente ele é, não como nós o reproduzimos nas grandes cidades.

Todas essas dimensões precisam referenciar uma reforma curricular e de maneira transversal. Se a consolidação de uma sociedade industrial e as referências territoriais foram importantes para a determinação cultural do indívíduo e para a formação das nações. Ficou para trás o tempo em que prevaleciam os limites do interesse nacional e a visão pelo prisma do antropocentrismo. Hoje é preciso se adequar a uma visão global. O planeta deve ser visto como um todo. Os mares, rios, ecossistemas devem ser pensados de maneira sistêmica e complementar. Colocar essas dimensões a serviço da sociedade global do século XXI passa por todos os setores, especialmente pela educação de nossos jovens.

* Ricardo Young é empresários, militante da causa da sustentabilidade e pre-candidato a senador por São Paulo pelo Partido Verde.


(Envolverde/O autor)

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ESTUDANTE NÃO É ALUNO

A ditadura militar de 64 proibiu as organizações de classe dos estudantes e instituiu, graças às prisões, aos seqüestros e aos assassinatos das lideranças estudantis, a cultura do “aluno” universitário. Decorridas mais de duas décadas após a redemocratização do Brasil, a cultura do “aluno” universitário domina nos campi, apesar da volta à atividade dos centros acadêmicos, dos DCEs e da UNE.

Se é para falar sério de educação democrática, então é preciso, em primeiro lugar, levar em conta a diferença entre educação e ensino: como os verbos indicam, na educação a ênfase é no indivíduo (educa-se alguém), enquanto no ensino a ênfase é na coisa (ensina-se algo a alguém).

O individuo que ingressa numa universidade é, em regra, um jovem no final da adolescência e no início da vida adulta. A educação do jovem não pode ser a mesma do adolescente ou da criança. O trote é justamente um rito de passagem, para marcar na carne a entrada na vida adulta autônoma: o estudante terá que aprender a lidar com a liberdade e com a responsabilidade. Liberdade é escolha, opção, o que gera angústia e insegurança, enquanto responsabilidade é a capacidade de arcar com as conseqüências das opções assumidas, o que depende de esforço concentrado e de resistência a tensões.

A universidade que só ensina é a universidade do aluno, autoritária e anárquica, burocrática, distante do trabalho produtivo. A universidade do ensino integrado à pesquisa e à extensão, comprometida com a produção efetiva e a inovação tecnológica, com o público de carne e osso, seu vizinho, só pode ser a universidade do estudante.

Enéas Valle